07 - SERTÃO PROIBIDO
A primeira ordenação sacerdotal na Igreja Matriz de Santana é do
Padre Felipe Caetano da Silva em 26/07/1966.
Em 30/01/1967 termina o mandato do saudoso prefeito Francisco Moacir
da Silva, de grandes melhoramentos ao município como calçamento de ruas, iluminação
da Ponte Raul Soares, ampliação da rede de esgoto e captação de água pluvial,
perfuração de novos poços artesianos, construção de escolas rurais, sendo que o
ponto alto de sua administração foi a Criação e Instalação do "Ginásio
Estadual Guido Marlière", fazendo uma adaptação do Prédio do “Asilo dos
Pobres” doado ao estado de Minas pela Diocese de Leopoldina, sob a aprovação do
Padre Oscar. No dia 25/07/1967, o criativo poeta Marcus Cremonese faz uma homenagem
a Guidoval, a Santana e a todos guidovalenses apresentando o seu poema “De como
eu amo uma cidade” no Cinema do Severino Occhi, que tudo sabia de marketing.
Senão vejamos. Deixava uma greta de cortina aberta para se ver parte final do
filme. Pelo basculante semi-aberto da Rua Sacramento um agrupamento de pessoas
assistia trecho do filme. Sem mais nem menos a fita era interrompida, hora de
se vender os deliciosos picolés que lotavam o freezer do bar. Garotos, em troca
do ingresso, percorriam as ruas da cidade segurando uma tabuleta artisticamente
escrita anunciando o nome do filme em cartaz. Saudades do cinemascope, do
operador Geraldo Pereira, do porteiro Dimas Jacaré, do cinema do Severino, João
Marceneiro e Zimbim (José Diomiciano Soares). Faz enorme falta um centro
cultural.
Em 1968 morre o consagrado escritor Lúcio Cardoso que chegou a afirmar
ao “Jornal do Brasil”: “Guidoval é a mais mineira de todas as cidades”. Esta
sentença que nos envaidece é fruto das longas conversas que Lúcio Cardoso manteve
com um de nossos ferreiros, quando por aqui passou.
Seria o ferreiro Sebastião Franco (avô do Dr. Wilton) ou
Sebastião Almeida (pai do caminhoneiro Milim) ou Sebastião Pereira (pai da
Eneida do Zim do Sô Nego)?
Ou seria o Belo que colocava bilhetes na porta do seu
estabelecimento como “Belo mudô, difronte do Trajano, dibaixo do Otaço” ou
ainda “Belo saiu, Belo foi murçá, Belo não demora, Belo vórta já”?
Tempos que não voltam mais.
Encerro a segunda parte deste artigo citando “Esta é a terra
que Deus prometeu e do amor plantastes a raiz” , verso do meu samba “Guido,
este vale é teu”.
(Fim da segunda parte – publicada no Jornal de Guidoval em
Março/2006)
Estamos em “1968” que,
de acordo com o livro do jornalista Zuenir Ventura, é “o ano que não terminou”.
O mundo vive grandes transformações políticas, éticas, sexuais e
comportamentais, rebelião de estudantes em Paris, Primavera de Praga, passeata
dos cem mil pela morte do estudante Edson Luís na UFRJ, prisão dos estudantes
da UNE em Ibiúna.
Por alguns centésimos de segundos o atleta José Alan Máximo
(melhor goleiro da história de Guidoval, na opinião de muitos, inclusive a minha)
não consegue se classificar para participar da Equipe Brasileira nas Olimpíadas
no México.
O obscurantismo da ditadura militar edita o AI-5 em 13/12/1968.
Em síntese podia-se decretar Estado de Sítio, recesso do Congresso, Assembléias
e Câmaras de Vereadores. Suspender a garantia de HABEAS CORPUS e direitos
políticos de quaisquer cidadãos. Intervir nos Estados e Municípios. Proibir de
freqüentar determinados lugares, ter a liberdade vigiada. Ou seja, não mais se
podia nem conversar fiado na “ESQUINA”.
A morte, normalmente, traz grande dor. Não foi diferente em
09/12/1969, quando um trágico acidente fez toda cidade chorar a perda de quatro
conterrâneos de uma só vez: Iolanda Bressan da Costa, Nair Bressan da Costa,
Vereador Sebastião Inácio da Costa e Vereador Natalino Dornelas de Oliveira,
Presidente da Câmara Municipal e o principal candidato a prefeito na eleição vindoura.
O regime de exceção não consegue calar a irreverência de alguns
jovens guidovalenses que nos botequins levantavam copos de cerveja e davam
“Viva à Rússia”, como consta na Ata da Câmara de 16/08/1970. Não eram
comunistas nem subversivos, manifestavam insatisfação contra o golpe de 64. Só
isso, mas dedos-duros de plantão denunciavam aos militares qualquer arroubo juvenil.
Nas eleições
municipais de 15/11/1970 a Professora Carmem Cattete Reis Dornelas foi a
primeira mulher a ser eleita vereadora em nossa cidade. Teve a maior votação até
à época conseguida por um edil. O ingresso na política da nossa grande educadora
foi a forma que ela encontrou de homenagear o marido, Natalino Dornelas,
falecido menos de um ano antes. Por duas legislaturas honrou a nossa Câmara
Municipal com criatividade, dedicação e sabedoria.
No dia 23/03/1971 morre Padre Oscar de Oliveira um dos maiores
benfeitores de nossa terra. Liderou os católicos, participou ativamente da vida
do município. Vieram vários sucessores: Pe. Venício, Pe. João Beentys, Pe.
Cassemiro, Pe. Antônio, Pe. Catarino, Pe. Jorge Passon, Pe. José Carlos
Ferreira Leite, Pe. Semer e Frei Adriano. Todos com obras e realizações, mas
nada que se compare à administração do Paroquiato de Padre Oscar que construiu
a nossa monumental Igreja Matriz de SANTANA e a bela TORRE, a qual batizou de “IMACULADO
CORAÇÃO DE MARIA”.
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