02 - SERTÃO PROIBIDO
Não parou de chegar estrangeiro, imigrantes portugueses e
italianos, negros alforriados, o povoado crescendo, o primeiro comércio, a
primeira igreja, o primeiro crime, o primeiro casamento. A febre amarela que
grassava o Rio de Janeiro desde 1850 começou a fazer vítimas pelo interior do
Brasil. A Freguesia de Sant'Anna do Sapé não ficou livre dessa epidemia. Em
menos de um ano, de 22/04/1857 a 15/03/1858, o livro de óbitos registra a morte
de 31 pessoas com o sobrenome Bagne. Não se sabe a “causa mortis”, mas é
muita desgraça para uma só família.
Em 11/11/1858 nasce Bernardo Pinto Monteiro, filho de José
Mariano Pinto Monteiro e Carolina Duarte Pinto Monteiro, natural de Ubá. É natural,
pois a Freguesia de Sant'Anna do Sapé pertencia a Ubá. Meu amigo Marcellus
Cattete afirma que ele nasceu na Fazenda de Sant'Ana, visitada pelo Imperador
D. Pedro II, depois propriedade de D. Natinha que dizem ter sido amante do
Presidente Getúlio Vargas. Um monumento de fazenda, uma relíquia do ciclo do
café, que foi destruída apenas para vender o madeirame. Mas voltando ao Dr.
Bernardo Monteiro ele foi Vereador, Deputado, Senador e Prefeito de Belo
Horizonte. Hoje é nome de avenida na capital. Vamos pesquisar com maior
profundidade a origem do provável ilustre conterrâneo.
No dia 02/08/1859 morre Anna, índia Coroatá e em 29/05/1860 o índio
Puri Severino. São enterrados como cristãos no cemitério local.
Em outubro de 1864 começa a Guerra do Paraguai. Não bastasse a febre
amarela para aniquilar os mais humildes, surge o conflito militar mais
sangrento da América do Sul. A comunidade do Ribeirão Preto, já sofrida pela
escravidão faz promessa. Se os seus filhos não fossem convocados para a guerra
e nem morressem da epidemia que se alastrava, iriam construir um cruzeiro em
homenagem a São Pedro. Atendidos em suas preces em 1870 erguem o Cruzeiro do
Ribeirão e em todo 29 de junho festejam, até hoje, com entusiasmo as graças
obtidas, num ritual tradicional que emociona os participantes e convidados.
Albino Ferreira de Araújo adquire uma porção de terra com vinte
alqueires de plantio de milho na Fazenda Aldeia do Morro.
A Lei do Ventre Livre é aprovada em 1871, livrando-se da
escravidão todos os negros nascidos a partir daquela data. Porém a criança
ficaria em poder dos senhores de sua mãe até os 21 anos. Liberdade para inglês
ver. Em 10/06/1873 Inácio José de Barros e sua mulher doaram três alqueires de
terras, a título de permuta, à Paróquia de Sant'Ana, tendo à frente Padre Severiano
Anacleto Varella.
Aos dois anos de idade, em 1873, veio morar na Fazenda de
Jacinto Pereira, na Serra da Onça, o menino Levindo Eduardo Coelho, depois Senador
e pai do Governador Ozanan Coelho. Nasce no dia 16 de junho de 1877, Joaquim
Martins, filho de José Martins Ferreira e Joana Martins Coelho. O pai era
natural de São João Nepomuceno. Joaquim depois virou fazendeiro, coronel,
político, nome de rua, com muita história para contar. Em 06/09/1879 falece o
Capitão-Mor Florêncio Pereira da Silva Catete, de 79 anos. Era natural de
Mariana.
Nasce em
11/02/1888 Elisa Ribeiro, filha da parteira Afra Tereza. Três meses e dois dias
depois de seu nascimento, a liberdade limitada da Lei do Ventre Livre era lhe
restituída integralmente pela Lei Áurea. O Brasil inteiro comemorou a virada
desta página de dor e vergonha da história nacional. Elisa aprendeu com a mãe o
ofício de parteira. É a cidadã que mais guidovalenses ajudou a nascer em toda
história do município. À benção Vó Elisa!
O povoado
continuou atraindo aventureiros e desejosos de fortuna. Chega a Freguesia de
Sant'Ana do Sapé, em 1891, o Dr. Manoel Basílio Furtado e abre uma empresa de
beneficiamento de cereais. Médico, cientista, pesquisador é o primeiro a
levantar a biografia de Guido Marlière. É o responsável pela pintura do único
quadro que conhecemos do “Comandante de todas as Divisões do Rio Doce” .
Conseguiu emprestado de Maria Flávia Marlière a medalha que ela herdara da avó
Maria Victória. Dr. Basílio registra em fotografias o incipiente Sapé no fim do
século XIX. Muitos comemoraram a chegada do século XX. Dr. Manoel Basílio
Furtado não tinha motivos para celebrar, os negócios não andavam bem, fechou a
empresa e mudou-se para Rio Novo.
Durante o paroquiato do Padre João Caetano da Encarnação é
criado a Conferência de Sant'Ana em 30/06/1901.
Circula em 1906 o jornal “O SAPÉ”, de Belarmino Campos.
Casam-se Dionísio Vitorino Maciel e Isaura Rosa Silva. O Tenente Joaquim Henriques
da Costa pede providências para consertar a estrada que vai a “Barreiras”,
no lugar denominado “Barro Branco”. Encontrava-se adoentado o
proprietário da Padaria São Pedro, Sr. Vicente Jorge. A Profª. Mariana de Paiva
convoca os pais a matricularem seus filhos na escola de ensino primário. A Sociedade
Atheneu Sapeense convida o corpo cênico para uma reunião. Esta sociedade
cultural é presidida por Belarmino Campos, músico, ourives, dentista,
jornalista, ator, dramaturgo, cenógrafo. É um dos grandes beneméritos do Sapé.
Nasce na Serra da Onça, em 11/05/1906, Ascânio Lopes.
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