sábado, 16 de março de 2019

02 - SERTÃO PROIBIDO


02 - SERTÃO PROIBIDO


Não parou de chegar estrangeiro, imigrantes portugueses e italianos, negros alforriados, o povoado crescendo, o primeiro comércio, a primeira igreja, o primeiro crime, o primeiro casamento. A febre amarela que grassava o Rio de Janeiro desde 1850 começou a fazer vítimas pelo interior do Brasil. A Freguesia de Sant'Anna do Sapé não ficou livre dessa epidemia. Em menos de um ano, de 22/04/1857 a 15/03/1858, o livro de óbitos registra a morte de 31 pessoas com o sobrenome Bagne. Não se sabe a “causa mortis”, mas é muita desgraça para uma só família.

Em 11/11/1858 nasce Bernardo Pinto Monteiro, filho de José Mariano Pinto Monteiro e Carolina Duarte Pinto Monteiro, natural de Ubá. É natural, pois a Freguesia de Sant'Anna do Sapé pertencia a Ubá. Meu amigo Marcellus Cattete afirma que ele nasceu na Fazenda de Sant'Ana, visitada pelo Imperador D. Pedro II, depois propriedade de D. Natinha que dizem ter sido amante do Presidente Getúlio Vargas. Um monumento de fazenda, uma relíquia do ciclo do café, que foi destruída apenas para vender o madeirame. Mas voltando ao Dr. Bernardo Monteiro ele foi Vereador, Deputado, Senador e Prefeito de Belo Horizonte. Hoje é nome de avenida na capital. Vamos pesquisar com maior profundidade a origem do provável ilustre conterrâneo.

No dia 02/08/1859 morre Anna, índia Coroatá e em 29/05/1860 o índio Puri Severino. São enterrados como cristãos no cemitério local.

Em outubro de 1864 começa a Guerra do Paraguai. Não bastasse a febre amarela para aniquilar os mais humildes, surge o conflito militar mais sangrento da América do Sul. A comunidade do Ribeirão Preto, já sofrida pela escravidão faz promessa. Se os seus filhos não fossem convocados para a guerra e nem morressem da epidemia que se alastrava, iriam construir um cruzeiro em homenagem a São Pedro. Atendidos em suas preces em 1870 erguem o Cruzeiro do Ribeirão e em todo 29 de junho festejam, até hoje, com entusiasmo as graças obtidas, num ritual tradicional que emociona os participantes e convidados.

Albino Ferreira de Araújo adquire uma porção de terra com vinte alqueires de plantio de milho na Fazenda Aldeia do Morro.

A Lei do Ventre Livre é aprovada em 1871, livrando-se da escravidão todos os negros nascidos a partir daquela data. Porém a criança ficaria em poder dos senhores de sua mãe até os 21 anos. Liberdade para inglês ver. Em 10/06/1873 Inácio José de Barros e sua mulher doaram três alqueires de terras, a título de permuta, à Paróquia de Sant'Ana, tendo à frente Padre Severiano Anacleto Varella.

Aos dois anos de idade, em 1873, veio morar na Fazenda de Jacinto Pereira, na Serra da Onça, o menino Levindo Eduardo Coelho, depois Senador e pai do Governador Ozanan Coelho. Nasce no dia 16 de junho de 1877, Joaquim Martins, filho de José Martins Ferreira e Joana Martins Coelho. O pai era natural de São João Nepomuceno. Joaquim depois virou fazendeiro, coronel, político, nome de rua, com muita história para contar. Em 06/09/1879 falece o Capitão-Mor Florêncio Pereira da Silva Catete, de 79 anos. Era natural de Mariana.

Nasce em 11/02/1888 Elisa Ribeiro, filha da parteira Afra Tereza. Três meses e dois dias depois de seu nascimento, a liberdade limitada da Lei do Ventre Livre era lhe restituída integralmente pela Lei Áurea. O Brasil inteiro comemorou a virada desta página de dor e vergonha da história nacional. Elisa aprendeu com a mãe o ofício de parteira. É a cidadã que mais guidovalenses ajudou a nascer em toda história do município. À benção Vó Elisa!

O povoado continuou atraindo aventureiros e desejosos de fortuna. Chega a Freguesia de Sant'Ana do Sapé, em 1891, o Dr. Manoel Basílio Furtado e abre uma empresa de beneficiamento de cereais. Médico, cientista, pesquisador é o primeiro a levantar a biografia de Guido Marlière. É o responsável pela pintura do único quadro que conhecemos do “Comandante de todas as Divisões do Rio Doce” . Conseguiu emprestado de Maria Flávia Marlière a medalha que ela herdara da avó Maria Victória. Dr. Basílio registra em fotografias o incipiente Sapé no fim do século XIX. Muitos comemoraram a chegada do século XX. Dr. Manoel Basílio Furtado não tinha motivos para celebrar, os negócios não andavam bem, fechou a empresa e mudou-se para Rio Novo.

Durante o paroquiato do Padre João Caetano da Encarnação é criado a Conferência de Sant'Ana em 30/06/1901.

Circula em 1906 o jornal “O SAPÉ”, de Belarmino Campos. Casam-se Dionísio Vitorino Maciel e Isaura Rosa Silva. O Tenente Joaquim Henriques da Costa pede providências para consertar a estrada que vai a “Barreiras”, no lugar denominado “Barro Branco”. Encontrava-se adoentado o proprietário da Padaria São Pedro, Sr. Vicente Jorge. A Profª. Mariana de Paiva convoca os pais a matricularem seus filhos na escola de ensino primário. A Sociedade Atheneu Sapeense convida o corpo cênico para uma reunião. Esta sociedade cultural é presidida por Belarmino Campos, músico, ourives, dentista, jornalista, ator, dramaturgo, cenógrafo. É um dos grandes beneméritos do Sapé.

Nasce na Serra da Onça, em 11/05/1906, Ascânio Lopes.

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