05 - SERTÃO PROIBIDO
Toma posse na Igreja Matriz de Santana o pernambucano Padre
Oscar de Oliveira em 29/12/1951, princípio da mais fecunda administração da
nossa paróquia.
Depois de mais de oito anos o salário mínimo que era de
Cr$380,00 passou para Cr$1.200,00 em 01/01/1952.
Um funcionário graduado da prefeitura que recebia apenas
Cr$900,00 pedia, com razão, aumento em 03/02/1950.
Depois de 39 anos sem solenidades na Semana Santa é encenado, em
11/04/1952, a Paixão de Cristo. Padre Oscar anota no Livro de Tombo: “Grande
resultado espiritual”.
O iluminado Prof. Ernani Rodrigues “lança a pedra fundamental”
do Ginásio Guido Marlière no dia 1º de maio de 1952. Guidoval começava de fato
a se transformar numa cidade.
Existia em Guidoval, como de resto em todo país, uma acirrada
disputa política entre o PR/UDN e o PSD. O cidadão guidovalense contente com a
gestão de Dilermando queria que ele continuasse à frente da prefeitura. Avesso
ao fingimento das campanhas políticas, cabalar votos, tapinhas nas costas, fazer
promessas vãs, Dilermando revela-se um hábil negociador ao condicionar a sua
candidatura a prefeito para o próximo mandato desde que houvesse uma UNIÃO de
todas as correntes partidárias do município. Em 27/04/1952 há uma reunião sem
precedentes do PR, PSD, UDN e PTB em que os partidos prometem uma trégua em
suas desavenças ideológicas lançando candidatura única para prefeito e
vice-prefeito (veja foto acima).
Em 26/07/1952, circula o jornal “Cidade de Guidoval” dirigido
pelo Sr. Sebastião Cruz e Dr. Mário Geraldo Meireles, adversários políticos,
mas unidos no interesse maior do município. Dois incansáveis batalhadores, vida
afora, pelo progresso e bem-estar de nossa cidade. As edições desse jornal
noticiam o LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL do “Asilo Frederico Ozanan” e do
“Ginásio Guido Marlière”, as obras e melhoramentos que aos pouco iam surgindo
na pequena urbe.
Toma posse, em 28/03/1953, Dilermando Teixeira Magalhães
(prefeito) e Astolfo Mendes Carvalho (vice-prefeito) eleitos pelos PSD, com
mandatos obtidos através de eleição com candidatura única.
Em 19/06/1954 nasce Antônio José Barbosa depois professor
universitário, historiador, ilustre conterrâneo que quando Secretário Executivo
do Ministério da Educação trouxe grandes realizações para a municipalidade.
O status de cidade exigia ares de civilização. Na entrada do
povoado uma velha placa alertava: “É proibido entrar carro de boi cantando nas
ruas da cidade Multa $10:000”. A sanção aos infratores era estipulada em
mil-réis quando o mesmo já fora extinto desde 1942. Contrariados, tristes,
ressabiados, os carreiros respeitavam, em termos, este estorvo de lei
provinciana. Lembro-me do Zé Coelho meeiro de Ildefonso Gomes, Pedrinho
Ribeiral, Xará, Zé e Cavaco do Sô Tão, Chico Laureano, Tida Venâncio e João
Natal empregado do fazendeiro e grande empreendedor Antenor Bressan que
construiu em tempo recorde o prédio
para abrigar o Ginásio Guido Marlière.
No dia 02/05/1956 a Paróquia de Santana comemora com fervor cem
anos de existência. Vários garotos vestidos de príncipes fazem a Guarda de
Honra do Bispo Dom Delfim Ribeiro Guedes que comanda a cerimônia, com a presença
de vários padres, fiéis e devotos. Há uma foto que registra este fato e no
verso uma significativa dedicatória "A boa D. Sinhá Cattete, a alma
artística das Festas do Centenário da Paróquia”, assinada por Padre Oscar de
Oliveira. Ele aproveita as festividades para comprometer-se com o início das
obras de construção da nova igreja. Circula pelas ruas da cidade o jornal
satírico “O ESPIÃO” feito por Ibsen Francisco de Sales, o estimando professor
Salim, lembrado com carinho por várias gerações de estudantes de nossa terra.
Nesse ano, Juscelino Kubitschek enfrenta sérios obstáculos para
assumir a Presidência da República a 31 de janeiro. Nossas modestas ruas já
tinham sido percorridas pelo presidente-estadista, acompanhado de várias
autoridades dentre elas a Profª. Jesuína Simões de Mendonça.
No dia 02/02/1957 é assassinado o fazendeiro e político Coronel
Joaquim Martins, vítima de uma tocaia quando abria a porta de sua fazenda.
Surgiram vários suspeitos, intrigas, júris, mas até hoje permanece o suspense e
mistério: Quem matou o coronel? Esta frase provocava a cólera do Agripino, um
andarilho que perambulava pelas ruas de Guidoval que é pródiga em transformar
pacatos cidadãos em malucos-beleza.
É o caso do Teteco, Quirino, Ôsprum, Ô Lôco, Ilda Quiabo, Sá
Lódia, Zé das Latas. Todos retidos na minha mais grata lembrança, como também
os recadeiros da telefonista D. Ernestina: Kael e Manoel da Sá Joaquina. Lembro
ainda do Mané Toma-Broa, o surdo Enéas, o negro Damião José, o sorridente
“fumeiro” Tuniquim, o lenhador-glutão Joviano, o menino-teimoso Elpídio, o
irrestível conquistador Fenderracha, o irrequieto Pinduca que às vezes
desafiava o destacamento policial, brigando com todos os soldados. Batia e
apanhava, depois exausto era preso. Passava a noite na cadeia debaixo da
prefeitura velha (nem mais existe o prédio), exposto à curiosidade pública das
crianças rueiras e dos desocupados de plantão. Dormia, sarava da carraspana,
era solto e ia trabalhar de “chapa de caminhão” para o cerealista Bié Linhares
que '”falou tá falado”.
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