sábado, 16 de março de 2019

05 - SERTÃO PROIBIDO


05 - SERTÃO PROIBIDO


Toma posse na Igreja Matriz de Santana o pernambucano Padre Oscar de Oliveira em 29/12/1951, princípio da mais fecunda administração da nossa paróquia.

Depois de mais de oito anos o salário mínimo que era de Cr$380,00 passou para Cr$1.200,00 em 01/01/1952.

Um funcionário graduado da prefeitura que recebia apenas Cr$900,00 pedia, com razão, aumento em 03/02/1950.

Depois de 39 anos sem solenidades na Semana Santa é encenado, em 11/04/1952, a Paixão de Cristo. Padre Oscar anota no Livro de Tombo: “Grande resultado espiritual”.

O iluminado Prof. Ernani Rodrigues “lança a pedra fundamental” do Ginásio Guido Marlière no dia 1º de maio de 1952. Guidoval começava de fato a se transformar numa cidade.

Existia em Guidoval, como de resto em todo país, uma acirrada disputa política entre o PR/UDN e o PSD. O cidadão guidovalense contente com a gestão de Dilermando queria que ele continuasse à frente da prefeitura. Avesso ao fingimento das campanhas políticas, cabalar votos, tapinhas nas costas, fazer promessas vãs, Dilermando revela-se um hábil negociador ao condicionar a sua candidatura a prefeito para o próximo mandato desde que houvesse uma UNIÃO de todas as correntes partidárias do município. Em 27/04/1952 há uma reunião sem precedentes do PR, PSD, UDN e PTB em que os partidos prometem uma trégua em suas desavenças ideológicas lançando candidatura única para prefeito e vice-prefeito (veja foto acima).

Em 26/07/1952, circula o jornal “Cidade de Guidoval” dirigido pelo Sr. Sebastião Cruz e Dr. Mário Geraldo Meireles, adversários políticos, mas unidos no interesse maior do município. Dois incansáveis batalhadores, vida afora, pelo progresso e bem-estar de nossa cidade. As edições desse jornal noticiam o LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL do “Asilo Frederico Ozanan” e do “Ginásio Guido Marlière”, as obras e melhoramentos que aos pouco iam surgindo na pequena urbe.

Toma posse, em 28/03/1953, Dilermando Teixeira Magalhães (prefeito) e Astolfo Mendes Carvalho (vice-prefeito) eleitos pelos PSD, com mandatos obtidos através de eleição com candidatura única.

Em 19/06/1954 nasce Antônio José Barbosa depois professor universitário, historiador, ilustre conterrâneo que quando Secretário Executivo do Ministério da Educação trouxe grandes realizações para a municipalidade.

O status de cidade exigia ares de civilização. Na entrada do povoado uma velha placa alertava: “É proibido entrar carro de boi cantando nas ruas da cidade Multa $10:000”. A sanção aos infratores era estipulada em mil-réis quando o mesmo já fora extinto desde 1942. Contrariados, tristes, ressabiados, os carreiros respeitavam, em termos, este estorvo de lei provinciana. Lembro-me do Zé Coelho meeiro de Ildefonso Gomes, Pedrinho Ribeiral, Xará, Zé e Cavaco do Sô Tão, Chico Laureano, Tida Venâncio e João Natal empregado do fazendeiro e grande empreendedor Antenor Bressan que construiu em tempo recorde o prédio para abrigar o Ginásio Guido Marlière.

No dia 02/05/1956 a Paróquia de Santana comemora com fervor cem anos de existência. Vários garotos vestidos de príncipes fazem a Guarda de Honra do Bispo Dom Delfim Ribeiro Guedes que comanda a cerimônia, com a presença de vários padres, fiéis e devotos. Há uma foto que registra este fato e no verso uma significativa dedicatória "A boa D. Sinhá Cattete, a alma artística das Festas do Centenário da Paróquia”, assinada por Padre Oscar de Oliveira. Ele aproveita as festividades para comprometer-se com o início das obras de construção da nova igreja. Circula pelas ruas da cidade o jornal satírico “O ESPIÃO” feito por Ibsen Francisco de Sales, o estimando professor Salim, lembrado com carinho por várias gerações de estudantes de nossa terra.

Nesse ano, Juscelino Kubitschek enfrenta sérios obstáculos para assumir a Presidência da República a 31 de janeiro. Nossas modestas ruas já tinham sido percorridas pelo presidente-estadista, acompanhado de várias autoridades dentre elas a Profª. Jesuína Simões de Mendonça.

No dia 02/02/1957 é assassinado o fazendeiro e político Coronel Joaquim Martins, vítima de uma tocaia quando abria a porta de sua fazenda. Surgiram vários suspeitos, intrigas, júris, mas até hoje permanece o suspense e mistério: Quem matou o coronel? Esta frase provocava a cólera do Agripino, um andarilho que perambulava pelas ruas de Guidoval que é pródiga em transformar pacatos cidadãos em malucos-beleza.

É o caso do Teteco, Quirino, Ôsprum, Ô Lôco, Ilda Quiabo, Sá Lódia, Zé das Latas. Todos retidos na minha mais grata lembrança, como também os recadeiros da telefonista D. Ernestina: Kael e Manoel da Sá Joaquina. Lembro ainda do Mané Toma-Broa, o surdo Enéas, o negro Damião José, o sorridente “fumeiro” Tuniquim, o lenhador-glutão Joviano, o menino-teimoso Elpídio, o irrestível conquistador Fenderracha, o irrequieto Pinduca que às vezes desafiava o destacamento policial, brigando com todos os soldados. Batia e apanhava, depois exausto era preso. Passava a noite na cadeia debaixo da prefeitura velha (nem mais existe o prédio), exposto à curiosidade pública das crianças rueiras e dos desocupados de plantão. Dormia, sarava da carraspana, era solto e ia trabalhar de “chapa de caminhão” para o cerealista Bié Linhares que '”falou tá falado”.

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