Guidoval, MG, teme nova enchente e acelera busca por soluções e obras
Há quase dois anos, fortes chuvas arrasaram a cidade da Zona da Mata.
Restabelecer a ligação entre as áreas da cidade é a prioridade.
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A chegada da primavera marca também o início das chuvas em praticamente todo o país. Por isso, está em reta final a elaboração do plano de ação para o período chuvoso 2013/2014, mas algumas cidades ainda sofrem com estragos recentes causados pelas águas, e não conseguiram esquecer enchentes recentes. Uma delas é Guidoval, na Zona da Mata.
Em janeiro de 2012, as fortes chuvas e a enchente do rio Xopotó destruíram a parte central, arrastaram duas pontes e causaram a morte de duas pessoas, deixando mais de mil desabrigados e 160 desalojados. A retomada de uma vida normal passa pela reestruturação de comerciantes e empresários, mas, ainda assim, marcada pelo temor de uma nova enchente.
De acordo com a prefeita de Guidoval, Soraia Vieira, no período crítico das chuvas, o Ministério da Integração Nacional liberou verba emergencial de cerca de R$ 2,4 milhões, mas o município recebeu apenas duas parcelas no valor de R$ 700 mil. A verba foi utilizada no asfaltamento de quatro ruas e na construção de dez pontes, obras realizadas na administração passada. “As pontes estão na zona rural e não tem muita utilidade para os moradores”, afirmou a atual prefeita.
Atualmente o município aguarda a liberação da terceira parcela, do mesmo valor, que já foi encaminhada, para construir quatro pontes que faltam para atender à zona rural.
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Por meio de nota enviada à reportagem do G1, a assessoria do Ministério da Integração Nacional, explicou que os recursos de R$ 2.353.573,92 são destinados à reconstrução de pontes, construção de unidades habitacionais, aquisição de terreno para implantação de casas e recuperação de pavimentação de vias urbanas com execução de drenagem pluvial. Do valor, foram pagos R$ 1.529.823,05 (1ª parcela em 25/05/2012, de R$ 706.072,18 e 2ª parcela em 28/12/2012, de R$ 823.750,87). E de acordo com a nota, a Prefeitura enviou Prestação de Contas Parcial em 22/05/2013 para a liberação da terceira e última parcela. O Ministério da Integração Nacional encaminhou ao município de Guidoval, em 02/09/2013, oficio solicitando documentação complementar da prestação de contas parcial para continuidade da análise e posterior liberação da última parcela.
De acordo com a prefeita Soraia Vieira, a documentação já foi encaminhada e estão para serem liberados.
Restabelecer a ligação entre as áreas da cidade que é dividida pelo Rio Xopotó é a prioridade. No momento, uma comunidade aguarda a construção de uma passarela, na região onde ficava a ponte antiga destruída pela chuva.
A assessoria da Secretaria de Estado de Transportes de Obras (Setop) informou à reportagem do G1 em nota que o convênio nº 264/12, cujo objeto é a construção de passarela sobre o rio Xopotó, encontra-se em vigência, com prazo para conclusão das obras em 30/06/2014. “O valor de R$ 80 mil que cabia ao Governo do Estado já foi repassado integralmente à prefeitura. Ao Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais (DER) caberá, somente, a vistoria final da obra, o que ainda não aconteceu”, informou a nota.
No entanto, a prefeita Soraia Souza afirma que esta obra está irregular. Segundo ela, a estrutura metálica está pronta, mas nenhum engenheiro assinou se responsabilizando pela a base onde será firmada. Sobre isso, a nota da Setop afirma que “mesmo com o convênio em andamento, a prefeitura poderá propor algum tipo de alteração no projeto de engenharia, porém todo o procedimento deverá ser comunicado, com antecedência, ao setor de convênios da Setop. Se houver novos custos, a responsabilidade será do município”.
A prefeita disse ao G1 que fez novo projeto, pedindo um novo convênio de aproximadamente R$ 900 mil e encaminhou ao Governo do Estado na última semana.
O rio Xopotó, que na época transbordou, recebeu limpeza. “Esse trabalho contribui para reduzir 30% dos problemas no período de chuvas”. Mas, de acordo com a prefeita Soraia Vieira, a cidade continua em uma zona de risco. “Nossa unidade de saúde, a escola, todos continuam na área que foi destruída pela chuva. Vamos começar a construção da nova sede da Saúde no fim do ano", enfatizou.
A Defesa Civil adquiriu uma régua para acompanhar o nível do rio e deverá receber outro exemplar nos próximos dias. “Devemos contar também com um pluviômetro que vai ajudar a medir a quantidade de chuvas na cidade”, declarou a coordenadora da Defesa Civil, Marcília Ramos.
Uma equipe da região realiza reuniões semanais para elaborar o plano de contingência, com ações de preparação em casos de cenário de risco, como ocorrido nas chuvas de 2012. A chefe do Executivo busca novos recursos para a Defesa Civil. “Vinte e três cidades receberam kits para fortalecer as equipes em cidades afetadas pelas chuvas. Guidoval não foi contemplada. Marcamos uma audiência com o governo para discutir essa situação", explicou a prefeita.
Trabalho
A reportagem do G1 conversou com pessoas que trabalham na área central de Guidoval, que foi alagada em 2012. Romeu Alves Vieira é dono de uma loja de utilidades e material de construção. Do lado de fora, a força da água arrancou paralelepípedos e asfalto. Dentro da loja, a enchente alcançou dois metros, atingindo produtos guardados nas prateleiras mais altas. “Tivemos prejuízo grande. Mas deu para recuperar algumas peças. Deu muito trabalho, mas recuperamos. Como a cidade foi reconstruída, a gente trabalhou muito para vender”, relatou.
De acordo com ele, o local precisou de um ano para ficar arrumado e a aproximação do período chuvoso já muda a rotina na área: “Agora quando chega esse período, o pessoal vai se preparando. Aqui é um local onde sempre teve alagamento, mas nunca como aquele ano”, lamentou o comerciante.
Já o diretor comercial de uma empresa de produção de móveis tubulares, Christian Brum, contou que não foi a primeira vez que foram afetados pelas chuvas: em 2008, o prejuízo foi de R$ 1 milhão – a água chegou a 1,80 m na área da fábrica. Já em 2012, o impacto financeiro chegou a R$1,5 milhão, considerando os prejuízos de matérias primas, quase 60 dias parados, quedas de produção e perdas de patrimônio, maquinário e com a reconstrução.
Em parte da fábrica, a água alcançou 2,8 m e em outras, a enchente passou de 3 m. “Tivemos muita dificuldade. Havia promessas de suporte do governo que não se cumpriram. Tivemos que arcar tudo do próprio bolso. Assim, arregaçamos as mangas e trabalhamos. Aumentamos o quadro de funcionários e tivemos crescimento de 38% do faturamento”, disse o diretor comercial.
Atualmente, Christian Brum conta que a empresa conseguiu recuperar a fábrica destruída, como construir uma nova unidade e ainda aumentar o número de funcionários de 125 para 180. “Foram gastos quase R$ 3 milhões para bancar a obra, com suporte de bancos federais, mas não foi o que tinha sido falado pelos políticos”. Ele disse que a obra da fábrica nova – uma área de 90 mil m² termina neste mês e entra em funcionamento em fevereiro de 2014.
De acordo com dados da administração anterior da Prefeitura, a cidade, que faz parte do Polo Moveleiro de Ubá, teve 8 das 12 indústrias locais afetadas de alguma maneira. Christian sabe que a empresa faz parte de um grupo restrito: “Nem todos os empresários da cidade conseguiram se reerguer. Infelizmente. É ruim para a cidade, ruim para a economia local, para tudo”, explicou.
Ele ainda reforçou que isso não deve desanimar os moradores. “Nós estamos muito otimistas. A gente não tem do que reclamar, tudo que acontece na nossa vida é uma provação, a gente cresce”, comentou.
Prevenção
De acordo com a Defesa Civil de Minas Gerais, o Estado não tem hierarquia sobre os municípios, que são responsáveis por criarem núcleos locais de defesa civil, não só para a hora da resposta a uma necessidade, mas principalmente para os trabalhos de prevenção. O estado oferece apoio e suporte para as cidades façam a capacitação, o treinamento e adote medidas preventivas. Além disso, a Defesa Civil de Minas Gerais destacou que foram montados na região depósitos de material de ajuda humanitária e de apoio em Ubá, Barbacena e Juiz de Fora, em quarteis da PM. Neste mês, segundo a Defesa Civil, as Secretarias Coordenadas e Integradas ao Sistema de Defesa Civil vão se reunir para planejar as ações estratégicas do Estado em apoio aos Municípios. O resultado deve ser lançado em breve. No entanto, a Defesa Civil destaca que não adianta ter os dados se o município não estiver preparado para atuar em prevenção e apoio às comunidades nas áreas de risco.
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