sábado, 29 de agosto de 2015

Mujica é tudo que o Lula, Zé Dirceu, Dilma e PT não são.

Mujica

000mujicaPor Rogerio Dultra dos Santos
Anti-imperialista, anti-proibicionista, anti-capitalista, violador sistemático de protocolos e portador de um desdém profundo pela lógica do consumo, José Alberto Mujica Cordano, ou Pepe Mujica, Ex-Presidente uruguaio, veio hoje ao Rio de Janeiro para “mitar”.
Cercado por uma multidão de jovens ávidos pelo contato com o homem que liberou o consumo da maconha – mas não somente por isto –, foi recebido aos gritos de “Fora Cunha!”, “Não vai ter Golpe!” e “Não acabou! Vai acabar! Pelo fim da Polícia Militar!”.
O público não desapontou. O velho militante também não.
Mujica é uma metralhadora de frases potentes, slogans que falam de independência, liberdade, igualdade, fraternidade, revolução e civilização. É visto como uma espécie de poeta, rock star. Gente da política já chegou a compará-lo com Jesus. Ele exerce, no dizer de um admirador, uma liderança quase espiritual.
De suas ideias, destaco aleatoriamente duas: “Não nascestes somente para estudar, mas para viver. Portanto, tens que ter tempo para o amor!”; “O capitalismo impõe uma cultura que fomenta os seus interesses, o hiper-consumismo. Ele nos faz crer que a felicidade está no consumo. Se sua vida se transforma em pagar contas e trabalhar horas e horas, chegará ao fim dela como um objeto de mercado e terão comprado toda a sua liberdade!”
Mujica une amor, liberdade e política com uma facilidade e com uma verdade difíceis de encontrar em um líder contemporâneo. Assim como várias figuras da esquerda latino-americana e brasileira, é um sobrevivente da ditadura. Diferentemente de muitas delas, teve condição de preservar a sua própria história da sanha destruidora das mídias desde sempre hegemônicas.
Assim, pode-se pensar que Mujica é um espécime único, embora haja indício de que muitos como ele foram silenciados, seja pelas armas, seja por outros meios mais sutis, porém tão ou mais eficazes.
De todas as simbologias que o envolvem, a mais potente é a da reafirmação da política e das lutas dos trabalhadores latino-americanos por mais democracia. Vaticina: “A democracia não é perfeita, porque nós não somos perfeitos. Temos que defender a democracia para melhorá-la e não para sepultá-la.”
Mujica encarna a possibilidade da política suplantar a apatia, o medo, a indiferença. Ao ser visto como um tão jovem quanto todos os que o aplaudiram e tietaram demoradamente, ele reforça e reacende o compromisso que parte importante da juventude militante tem com o país e com seu povo.
Um antídoto perfeito para o projeto reacionário que, de tempos em tempos, insiste em permanecer entre nós.

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