MELATONINA
A melatonina (N-acetil-5-metoxitriptamina)
é um hormônio
produzido por diversos animais e plantas1
. Em animais superiores, é o produto de secreção da glândula
pineal. Quimicamente,
é uma indolamina sintetizada a partir do triptofano
(aminoácido essencial encontrado nas proteínas)
e, devido ao seu caráter anfifílico, pode atravessar facilmente as membranas celulares por difusão. Em
consequência, a melatonina não é armazenada no interior do pinealócito e é
imediatamente liberada dentro dos capilares sanguíneos que irrigam a glândula
pineal após a sua formação. Assim, a secreção de melatonina depende de sua
síntese, que é catalisada por quatro enzimas distintas: triptofano
hidroxilase (TPH), descarboxilase de L-aminoácidos aromáticos,
N-acetiltransferase (NAT) e hidroxi-indol-O-metiltransferase (HIOMT).
A glândula pineal participa na organização
temporal dos ritmos biológicos, atuando como mediadora entre o
ciclo claro/escuro ambiental e os processos regulatórios fisiológicos,
incluindo a regulação endócrina da reprodução,
a regulação dos ciclos de atividade-repouso e sono/vigília assim como
a regulação do sistema imunológico, entre outros.
Em humanos, a melatonina tem sua principal função
em regular o sono; ou seja, em um ambiente escuro e calmo, os níveis de melatonina
do organismo aumentam, causando o sono. Por isso é importante eliminar do
ambiente quaisquer fontes de som, luz, aroma, ou calor que possam acelerar o
metabolismo e impedir o sono, mesmo que não percebamos. Outra função atribuída
à melatonina é a de antioxidante, agindo na recuperação de células epiteliais
expostas a radiação ultravioleta2 e,
através da administração suplementar, ajudando na recuperação de neurónios
afectados pela doença de Alzheimer3
e por episódios de isquémia (como os resultantes de acidentes vasculares cerebrais)4 o
como add-on do tratamento para a epilepsia 5
Melatonina, a agenda do corpo
por Lúcia Helena de Oliveira e Chris Delboni
Um
hormônio secretado pela glândula pineal, localizada no cérebro, ganha cada vez
mais admiradores, que tomam sua versão sintética como que bebe da fonte da
juventude. A promessa: ela seria capaz até de reverter a passagem do
tempo. Mas os cientistas não têm provas. Reconhecem que a substância é a
responsável pela incrível pontualidade do corpo humano saudável, em que cada
órgão faz a coisa certa na hora certa. Se tem efeito como remédio é outra
história. Por isso sua comercialização ainda é proibida no Brasil.
Até recentemente,
fora da comunidade científica, seu nome só era conhecido de poucos viajantes
internacionais e pilotos. Essa gente sabia da sua fama de bloquear o jet lag, o
mal-estar que alguns sentem quando mudam de fuso horário. Mas, de uns tempos
para cá, a melatonina caiu na boca do povo. E como caiu. Cerca de 3 milhões de
americanos não passam sem seu comprimido de melatonina toda noite e 40 000
brasileiros também não vão para cama sem ela. A maré de usuários sobe
desde o final de 1995, impulsionada por livros propagando que o hormônio
evitaria o envelhecimento.
“Não
recomendo que ninguém tome melatonina antes de ouvir um médico”, disse à SUPER
o neuroendocrinologista Russel Reiter, professor da Universidade do Texas e
autor de Melatonin: Your Body’s Natural Wonder Drug (algo como: melatonina, a
droga maravilhosa que o seu corpo produz), que chegou às livrarias americanas em
novembro passado. Segundo o texto, “além de combater o estresse e os micróbios,
melhorar a qualidade do sono, reduzir os riscos de enfartes, regular ritmos
biológicos, a substância talvez proteja contra o câncer.” Ufa. Resista à
automedicação quem puder.
Reiter,
ao menos, estuda o assunto há 32 anos. E, apesar de ser seu fã número um e
apresentar dados cientificamente corretos, reconhece: “Ainda temos muito o que
pesquisar.” A cautela pode evitar a repetição do fiasco ocorrido quando o
hormônio foi isolado em 1958 dentro da minúscula glândula pineal. Seu
descobridor, o dermatologista americano Aaron Lerner, cismou que poderia curar
uma doença de pele chamada vitiligo, em que falta o pigmento melanina. Por isso
deu-lhe o nome de melatonina. Só que as duas coisas não tinham nada a ver e o
próprio Lerner abandonou a investigação. Na época, porém, dois cientistas do
Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos ficaram intrigados.
Richard Wurtman e Julius Axelrod acertaram na mosca: “Sua fabricação era inibida
pela luz do dia”, explica Axelrod à SUPER. “Só podíamos estar mexendo com uma
peça do nosso relógio biológico.”
Ritmo para tirar proveito da natureza
Dia,
noite, noite, dia: os seres vivos se adaptaram ao vaivém da luz criando uma
rotina interna. O primeiro cientista a ter essa suspeita foi o astrônomo
francês Jean-Jacques De Mairan que, em 1729, prestou atenção em uma planta da
espécie Mimosa pudica que ficava ao lado de seu telescópio. Ela abria ou
fechava as folhas conforme a luminosidade. De Mairan, então, resolveu guardar o
vaso dentro de um baú e notou que o vegetal continuava se comportando como se
acompanhasse a presença ou ausência do sol. A experiência foi relatada à
Academia de Ciências de Paris que, no entanto, não deu bola.
Na
época, acreditava-se que os ritmos biológicos obedeciam às mudanças naturais
externas e não a uma programação do indivíduo. Mas o francês tinha razão.
Segundo os atuais especialistas em cronobiologia, a agenda inte- rior não
depende diretamente da luminosidade. “Se você isolar alguém em um lugar com luz
artificial 24 horas, verá que os ciclos tenderão a acontecer normalmente, pelo
menos durante certo tempo”, diz o neurofisiologista José Cipolla-Neto,
professor da Universidade de São Paulo.
Mas
se a alteração das condições ambientais persistir, o corpo vai se reprogramar
passando a agir conforme esse novo software. Por isso, se você mudar para o
Japão, depois de um período seu corpo aprenderá a sentir fome por volta da
meia-noite brasileira, que é meio-dia no lugar em que você está morando.
“Os ciclos biológicos não são efeito do ambiente, simplesmente estão
sincronizados com ele.” E a sincronia ajuda a tirar proveito das fases da
natureza.
De olho na luz
Assim,
as plantas fazem sua fotossíntese nos momentos mais ensolarados do dia. As
abelhas, por sua vez, não perdem tempo: dão seus passeios nas horas em que as
flores liberam maior quantidade pólen. O corpo humano também tem seus horários
(veja as ilustrações ao lado). Normalmente a melatonina, presente até nos
seres unicelulares, começa a ser fabricada logo depois do anoitecer. “Seu pico
no homem é por volta das 2 horas da manhã”, conta o americano Russel
Reiter. O corpo compreende se é dia ou noite sabendo que há um antes e um
depois da melatonina. E cada órgão tem tarefas noturnas e diurnas, com um
padrão de atividade que se reinicia a cada 25,2 horas. São os ciclos de
circadianos, ou seja, que duram cerca de um dia.
Há
um ano, cientistas da Universidade Harvard, Estados Unidos, mostraram que a
retina, no fundo dos olhos, é um órgão fundamental para corrigir a
programação biológica quando necessário. A retina sempre registra impulsos
luminosos, mesmo no caso dos cegos ou quando as pálpebras estão fechadas. Desse
modo, no primeiro dia que você passar no Japão, a sua retina vai mandar sinais
da presença de luz para o núcleo supraquiasmático, o relógio biológico. Ele,
por sua vez, passa um recado à pineal: “Interrompa a sua produção de
melatonina” (veja o infográfico da página 57). Se a mesma ordem se repete
vários dias em seguida, a agenda acaba por se reprogramar.
Impressão digital
A
questão é saber qual a “zero hora” de alguém. Há quem seja o chamado tipo
vespertino preferindo ir para a cama de madrugada para acordar perto do meio
dia. Nesse tipo, a produção de melatonina começa mais tarde do que no tipo
matutino, que adormece cedo, despertando com os primeiros raios solares. “O
perfil de produção de melatonina de cada indivíduo tende a ser único, como uma
impressão digital”, diz Cipolla. Cada um, portanto, tem sua agenda exclusiva
marcando os compromissos dos diversos órgãos, o que complica bastante o uso de
melatonina como medicamento. “Como saber a hora exata de tomar o remédio, para
não bagunçar toda essa programação?”, pergunta Andrew Monjan, do Instituto
Nacional de Envelhecimento nos Estados Unidos. Por enquanto, não há resposta.
Promessas de manter a juventude
A
melatonina produzida pela pineal despenca com o passar dos anos (veja gráfico
abaixo). “Isso é uma boa explicação para a insônia comum na terceira
idade”, diz à SUPER o neurologista americano Andrew Monjan. “Pois, de fato, os
comprimidos da substância são ótimos para chamar o sono, sem causarem os
malefícios dos calmantes”, afirma. No entanto, Monjan não indica o hormônio a
pacientes idosos. “Sabemos dos benefícios para os insones quando a melatonina
é tomada durante no máximo seis dias”, conta. “Mas ninguém faz idéia do
que acontece com o uso a longo prazo.”
Para
quem viaja e não se acostuma com o novo fuso horário, um comprimido ou outro
podem ajustar os ponteiros do relógio biológico (veja como ele funciona ao
lado). Os idosos, porém, precisariam mais do que um mero ajuste. Como falta o
hormônio em seu corpo, para resolver suas noites mal dormidas eles dependeriam
da substância para sempre. Por isso, os famosos comprimidos não lhes serviriam
de remédio. José Cipolla-Neto, da Universidade de São Paulo, aponta outro
detalhe importante: a dose. Os produtos encontrados no mercado com menor
dosagem contêm 1 miligrama do hormônio. “Isso é duas a cinco vezes a
quantidade que o corpo produz todo dia”, diz. “E as conseqüências do excesso
são uma incógnita. Há indícios que o ciclo reprodutivo da mulher seja
interrompido”, exemplifica.
A
mania das megadoses surgiu com a hipótese sedutora de que seu uso prolonga a
vida. Há dois anos, o cientista Vladimir Dilman, do Instituto de Pesquisa
Experimental de São Petersburgo, acrescentou gotas de melatonina na água de
ratos. Os bichos viveram 25% mais do que o esperado.
Combate aos radicais
Já
o neurologista Walter Pierpaoli, da Fundação Biancalana Masea, na Itália,
implantou uma glândula pineal novinha em folha no cérebro de uma cobaia velha e
ela também ganhou 30% mais longevidade. O pesquisador americano Russel Reiter
tem uma teoria para explicar a juventude esticada dos animais: “A melatonina
é mais eficiente no combate aos radicais livres do que a vitamina E”,
afirma. Radicais livres são moléculas produzidas durante a respiração que
possuem um número ímpar de elétrons ao redor do núcleo. Como esses só gostam de
viver em pares, os radicais roubam elétrons de tudo quanto é célula que
encontram pela frente, causando estragos que, somados, estão por trás de males
diversos, como a perda de memória na velhice e o câncer.
As defesas aumentam
Em
tubos de ensaio, os cientistas já observaram que a melatonina pode fazer um
tumor maligno crescer mais devagar. Também em vidrinhos de laboratório o
hormônio age como uma vara de condão que multiplica as células imunológicas.
“São estudos sérios, mas ainda não há garantia de que o mesmo se repita dentro
do corpo humano”, opina Monjan, do Instituto Nacional do Envelhecimento. E
Reiter lamenta: “Nas poucas vezes em que esses efeitos foram testados em seres
humanos, foram usados pacientes à beira da morte. Mas acho que muito em breve a
melatonina será examinada em gente com câncer pouco desenvolvido.”
Isso
dependerá das novidades saídas da indústria farmacêutica: “Como o hormônio faz
mil e uma coisas dentro do organismo, fica difícil tomar melatonina para esse
ou aquele efeito sem produzir uma série de outros”, explica Cipolla, da USP.
Mas os químicos estão se inspirando na substância natural para desenhar
moléculas com uma única ação – anticâncer ou sonífera, por exemplo. Drogas
assim, com tudo o que a melatonina tem de bom e nada do que ela pode causar de
ruim, deverão chegar ao mercado nos próximos dois anos.
Melatonin: Your
Body’s Nature Wonder Drug, Russel Reiter, Bantam Books, Nova
York, 1995.
Introdução ao Estudo da Cronobiologia, José Cipolla-Neto, Nelson Marques
e Luiz Menna-Barreto, Ícone Editora, São Paulo, 1988.
O super hormônio (Revista Istoé)
Recentes estudos provam que a melatonina faz muito mais do que ajudar a dormir. Entre outros benefícios, ela auxilia no emagrecimento, combate a diabetes, controla a enxaqueca e protege contra os danos do mal de Alzheimer
Cilene Pereira e Monique Oliveira
Uma substância fabricada
naturalmente pelo organismo está despontando das pesquisas científicas como uma
espécie de super-remédio. De acordo com estudos realizados em todo o mundo, a melatonina,
hormônio responsável pela indução ao sono, é eficaz contra uma ampla gama de
enfermidades. Só para se ter uma ideia, ela ajuda a emagrecer, protege contra
os danos causados pelo acidente vascular cerebral, auxilia no controle da
hipertensão e da diabetes e reduz as crises de enxaqueca. Um dos últimos
benefícios descobertos foi o de diminuir a queda de cabelo provocada por causas
genéticas, a alopécia androgenética, conhecida como calvície masculina.
Ainda não se sabe ao certo quais
são os mecanismos que levam a esse espectro tão grande de atuação. O que se
descobriu recentemente e que ajuda a entender parte desse fenômeno foi que
existem receptores sensíveis à ação do hormônio em todo o organismo. Produzida
pela glândula pineal – localizada no cérebro – na ausência da luz, até pouco
tempo acreditava-se que a substância agisse basicamente sobre os centros
cerebrais envolvidos no controle do relógio biológico, estimulando o sono. Por
essa razão, suas indicações mais conhecidas eram contra a insônia e outros
distúrbios associados ao sono, como o jet lag.
A descoberta de suas outras
funções foi gradativa. Hoje, uma das áreas nas quais é possível encontrar
conhecimento mais sólido a esse respeito é a do câncer. A relação entre a
melatonina e a doença começou a ser mais investigada quando surgiram indicações
de uma associação entre o risco aumentado para a enfermidade e o trabalho
noturno. A última delas foi divulgada há poucas semanas na edição online do
“British Medical Journal”, uma das mais importantes publicações científicas do
mundo. Realizado no Queen’s University, no Canadá, um levantamento mostrou que
mulheres que trabalharam em turnos noturnos por mais de 30 anos apresentaram
duas vezes mais chances de desenvolver tumor de mama. Outra, divulgada no
“American Journal of Epidemiology”, indicou a associação entre homens
trabalhadores noturnos a risco elevado para câncer de próstata, pulmão, bexiga,
reto, pâncreas e linfoma não Hodgkin. Os resultados levantaram a hipótese de
que a ligação entre as duas coisas – trabalho noturno e câncer – fosse a baixa
produção de melatonina. “A exposição à luz, mesmo à noite, pode induzir a um
desequilíbrio na regulação biológica que propicia o desenvolvimento de
tumores”, disse à ISTOÉ a cientista Marie-Élise Parent, que comandou o estudo
com os homens.
Outros experimentos avançaram na
elucidação da questão. Apontaram que de fato o hormônio impede o crescimento
das células tumorais, e por caminhos diversos. “Ele protege o material genético
das células”, afirmou à ISTOÉ Antonio Soriano, da Universidade de Granada, na
Espanha, autor de uma revisão recente sobre o tema. Entre outras ações, a
melatonina impede que as células sofram com o estresse oxidativo – processo que
danifica o DNA – e ajuda a interromper a formação de novos vasos sanguíneos
destinados a alimentar o tumor.
Mecanismos como esses contribuem
para explicar, por exemplo, o resultado obtido pelos pesquisadores da Faculdade
de Medicina de São José do Rio Preto (SP) em relação aos efeitos do composto
sobre o câncer de mama. Em animais, a substância reduziu pela metade a forma
mais comum da doença. Além disso, o hormônio atenua efeitos colaterais da
quimioterapia. Na Universidade de Granada, os cientistas criaram um gel à base
de melatonina para proteger as mucosas do aparelho gastrointestinal da
inflamação decorrente do uso de quimioterápicos.
Sua ação sobre doenças
neurológicas e psiquiátricas também parece expressiva. O neurologista Mario
Peres, da Universidade Federal de São Paulo, concluiu um trabalho no qual ficou
demonstrada sua eficácia contra a enxaqueca. O médico comparou por dois anos a
eficiência e a tolerabilidade da suplementação de melatonina ao uso da
amitriptilina, antidepressivo receitado para prevenção das crises, e ao
placebo. Participaram 196 pessoas, com dois a oito episódios de crises por mês.
O médico observou redução de 2,7 pontos no uso de analgésicos e na frequência e
na intensidade das crises entre os que usaram melatonina; de 2,1 entre os que
tomaram amitriptilina; e de 1,1 nos que usaram placebo. “E ela não causou
sonolência diurna, ganho de peso, boca seca e outros efeitos observados com o
antidepressivo”, explica Peres.
Dos EUA vieram informações sobre
efeitos de proteção aos neurônios, algo importante, por exemplo, para impedir
mais danos após acidentes vasculares cerebrais. Uma pesquisa da Universidade do
Sul da Flórida revelou de que maneira a substância ajuda nessa tarefa. Uma de
suas ações é estimular que células-tronco se especializem em neurônios,
auxiliando, indiretamente, a repovoar áreas nas quais houve morte neuronal. “A
melatonina protege contra danos cerebrais e déficits de comportamento
resultantes do acidente vascular cerebral. Por esses motivos, vislumbramos seu
uso clínico contra o problema”, disse à ISTOÉ Cesario Borlongan, coordenador do
trabalho. Benefícios semelhantes foram observados contra o mal de Alzheimer.
Pesquisa da Universidade de Barcelona, feita em cobaias, mostrou que uma dose
diária do hormônio, combinada a exercício físico, retardou a progressão da enfermidade.
“Os resultados foram extraordinários. O hormônio aumenta a capacidade de o
neurônio se defender de danos”, disse à ISTOÉ o fisiologista Dario Acuña
Castroviejo, líder do estudo. “Como sua produção natural costuma cair depois
dos 40 anos, recomendo a suplementação a partir dessa idade.”
Na Itália, há pesquisas em curso
a respeito do papel do hormônio sobre a depressão. Sabe-se que, na presença da
doença, o ritmo circadiano, mediado pela substância, encontra-se alterado. Um
novo tipo de antidepressivo – a agomelatina – entrou no mercado com o objetivo
de atuar sobre a melatonina e ajudar a regular o relógio biológico. No
Instituto Nacional de Saúde italiano, cientistas buscam entender como o remédio
atua. “Há interações que o tornam eficiente. E acredito que os suplementos de
melatonina devem ser usados com os antidepressivos, para melhorar a qualidade
do sono dos pacientes”, ponderou à ISTOÉ Domenico De Berardis, coordenador do
trabalho.
Por se tratar de um hormônio
envolvido em operações básicas do organismo, a melatonina também tem ação sobre
o metabolismo – propriedade que a torna eficaz para a perda de peso, segundo
várias pesquisas. Uma delas foi feita na Universidade de Granada, com animais,
e revelou perdas consideráveis entre as cobaias submetidas à suplementação. “O
resultado dá suporte à proposta da administração do hormônio para tratar o
excesso de peso em humanos”, escreveram os pesquisadores.
Seus colegas italianos
identificaram mecanismos pelos quais ocorre o emagrecimento. Segundo experimento
da Università Politecnica delle Marche, entre outros efeitos, o hormônio reduz
a ingestão de comida porque estimula a atividade de moléculas envolvidas na
supressão do apetite. Além disso, outro trabalho, feito também na Itália,
demonstrou que a melatonina auxilia no controle da compulsão por comer à noite.
Experiência feita com um paciente tratado com a medicação agomelatina terminou
com uma perda de 5,5 quilos após três meses de uso. Os desdobramentos desse
tipo de estudo ajudarão a entender, por exemplo, por que os obesos têm menos
melatonina do que as pessoas com peso normal.
No Brasil, o endocrinologista
Bruno Halpern, coordenador da Liga de Diabetes do Hospital das Clínicas da
Universidade de São Paulo (USP), está concluindo um projeto de pesquisa para
investigar como se dá a ação do hormônio sobre a gordura marrom, chamada de
gordura que emagrece. Ela se deposita na região do pescoço, abaixo da clavícula
e ao longo da espinha e tem como função gerar calor, o que é feito a partir da
queima de calorias armazenadas – é por essa razão que leva à perda de peso. “O
estudo será feito com pessoas que produzem pouca melatonina. A ideia é
comprovar a menor ativação do tecido marrom nessas condições”, diz o médico.
Entre os indivíduos com produção reduzida da substância estão aqueles expostos
a mais luz à noite.
Já no Instituto de Ciências
Biomédicas da USP, os estudos pretendem elucidar como a melatonina influencia o
metabolismo energético e repercute na manifestação da diabetes. “Ela
potencializa a ação da insulina”, diz o pesquisador José Cipolla. A insulina é
o hormônio que possibilita a entrada, nas células, da glicose circulante na
corrente sanguínea. Quando sua produção é baixa ou sua atuação é prejudicada,
acumula-se açúcar no sangue, caracterizando a diabetes. “A redução da
melatonina intensifica o quadro diabético”, completa o cientista brasileiro.
Estudo da Universidade de Harvard (EUA), confirma a relação. Foram selecionadas
370 mulheres com diabetes tipo 2 e outras 370 saudáveis. Nas portadoras da enfermidade,
os níveis do hormônio eram significativamente menores.
Motivados por evidências como
essas, pesquisadores de cinco laboratórios internacionais criaram a rede
MELABETES. Uma das metas é aprofundar as investigações, principalmente sobre o
que leva alguns pacientes diabéticos a apresentarem menor concentração de
melatonina. “Podemos ajudar essas pessoas dando a elas suplementos do
hormônio”, explicou à ISTOÉ Ralf Jockers, da Université Paris Descartes, na
França, organizador da iniciativa. “Mas isso deve ser feito em conjunto com o
médico.”
MELATONINA
Qualidade Farmacêutica
Qualidade Farmacêutica
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Melatonina 3 mg / 300 comprimidos $47.95 USD Encomendar ( Use o Conversor Monetário Universal para encontrar o valor aproximado de sua compra em sua moeda ) |
Modo de uso: Um comprimido
na hora de dormir ou como recomendado pelo seu doutor.
Ingredientes: Melatonina 3mg,
vitamina B6 10mg, L-Theanina 25mg.
Outros
ingredientes: Carbonato de Cálcio, Celulose,
Croscamelose Sódica e Estearato de Magnésio.
A Melatonina regula o Sono e fortaleçe
o sistema imunológico
A Melatonina é uma hormônio produzido pela glândula
pineal, que tem o tamanho de uma pequena ervilha e situa-se no centro do
cérebro. A secreção da Melatonina produz-se durante a noite em resposta à
escuridão. Atinge um nível máximo no meio da noite, depois diminui até à manhã.
A síntese e a entrada em circulação da Melatonina, são inibidas pela luz: é o
hormômio do ritmo circadiano.
A Melatonina é um hormônio liposolúvel e
hidrosolúvel que o organismo metaboliza de maneira notavelmente rápida.
A produção de Melatonina diminui com a idade. Quando o homem envelhece, a glândula pineal calcifica-se e produz cada vez menos Melatonina. Os níveis de Melatonina são muito abundantes nas crianças, diminuem a partir da puberdade e reduzem-se seguidamente mais que 90%, até à idade de 70 anos.
A produção de Melatonina diminui com a idade. Quando o homem envelhece, a glândula pineal calcifica-se e produz cada vez menos Melatonina. Os níveis de Melatonina são muito abundantes nas crianças, diminuem a partir da puberdade e reduzem-se seguidamente mais que 90%, até à idade de 70 anos.
A Melatonina regulariza e controla o nosso relógio
biológico: melhora o sono, estimula o sistema imunológico e protege o sistema
nervoso central. Em estudos em Vitro, a Melatonina mostrou uma atividade que
não muda, em sete tipos diferentes de células humanas câncerosas, incluindo as
do seio e próstata. A Melatonina influencia tão positivamente os sistemas
reprodutores, cardiovasculares e neurológicos. A Melatonina é um antioxidante extremamente
potente e versátil, que protege cada parte da célula e cada célula do
organismo, incluindo os neurônios.
Mais de 100 doenças degenerativas (incluindo as
cataratas, a deterioração muscular da retina, a doença de Alzheimer, a doença
de Parkinson, a osteosdistrofia, etc...) são associadas a redução das defesas
antioxidantes do organismo. A oxidação é também um dos factores principais do
processo de envelhecimento! Com efeito, a Melatonina pode ser, com o DHEA, o
produto mais efetivo de prevenção a saúde, o mais eficaz e o mais barato
que existe!
A Melatonina é exatamente um produto de síntese
idêntico ao hormônio produzido naturalmente pela glândula pineal, que traz
múltiplos benefícios:
● Contra a insónia: A Melatonina é a melhor e a
mais certa dos indutores de sono disponíveis, é eficaz em uma hora em
90% dos usuários. O sono facilitado pela Melatonina é natural, mais
regularizado e de melhor qualidade que o sono provocado por soníferos. Os
usuários de Melatonina arcordam sempre bem dispostos e descansados.
● A Melatonina é particularmente eficaz para acabar
com as perturbações do ritmo circadiano que resultam do trabalho noturno.
● A Melatonina neutraliza os efeitos da tensão e
reduz o declínio gradual do sistema imunológico que o acompanha.
● Numerosos estudos demonstram que a Melatonina
protege contra o câncer e contra os efeitos tóxicos da quimioterapia. Restaura
o funcionamento da tiróide e aumenta a população de linfócitos T. A pesquisa
mostra também que suplementos de Melatonina permitem reduzir a hipertensão,
para resistir melhor os resfriados, e prevenir ou resistir melhor grandes
números de doenças associadas ao envelhecimento.
Há efeitos colaterais?
A Melatonina em suplemento dietético está
notavelmente certo e privado de efeitos colaterais. Certamente, é
desaconselhado conduzir ou utilizar instrumentos perigosos após ter consumido
Melatonina, dado que esta induz o sono e, consequentemente, diminui a rapidez
dos reflexos. Um estudo realizado na Holanda sobre uma população de 5.000
mulheres acaba de demonstrar definitivamente que a Melatonina, mesmo em
quantidade significante e por muito tempo, pode ser utilizada sem perigo.
Estas mulheres tomaram 75 mg de Melatonina por dia durante 5 anos, demonstrando que com esta dosagem a Melatonina inibe a produção de estrogénios. Nenhum efeito adverso foi constatado.
Estas mulheres tomaram 75 mg de Melatonina por dia durante 5 anos, demonstrando que com esta dosagem a Melatonina inibe a produção de estrogénios. Nenhum efeito adverso foi constatado.
Melatonina ou soníferos?
Sendo o contrário dos
soníferos, a Melatonina, em doses adequadas, induz um sono natural e
fisiológico que sincroniza novamente o ritmo circadiano. Melhora a velocidade
na qual a pessoa adormece bem como a duração e a qualidade do sono. A Melatonina
não cria hábito nem dependência. Em contraste, os soníferos retiram a fase
essencial do sono consagrada ao sonho, requerem a tomada de doses cada vez mais
elevadas, criam uma terrível dependência, que pode levar a morte.
Qual é a quantidade recomendada?
As necessidades individuais variam
significativamente: 1 à 3 mg são suficiente geralmente para induzir o sono. Se
o usuário tem um pouco de dificuldade para acordar no dia seguinte, é porque
tomou mais que o necessário. Se não dormir suficientemente, o usuário poderá
aumentar a dose. Utilizem o vosso bom senso para adaptar o vosso consumo às
necessidades do vosso organismo. Mas, o melhor meio para conhecer a vossa
necessidade exacta é o exame
de saliva (método médico preciso para restabelecer o nível óptimo de
melatonina).
Quando é necessário tomar a Melatonina?
A Melatonina deverá sempre ser tomada a noite. A
utilização da Melatonina pela manhã poderá gerar sonolência e te deixar
dessincronizado. Tome a Melatonina uma hora antes de ir deitar.
Quem não deve tomar Melatonina?
As mulheres grávidas ou amamentando, as crianças,
as pessoas com perturbações mentais graves e doenças auto-imunológicos devem
abster-se de tomar suplementos de Melatonina.
Como posso estar certo de que estou
obtendo uma Melatonina de boa qualidade?
Atenção aos produtos que são anuciados como vindo
da Melatonina "natural" ou dos extratos de glândula pineal.
Estes produtos de origem animal podem ser contaminados. A síntese da Melatonina é realizada a partir de ingredientes de qualidade farmacêutica por laboratorios. A sua estrutura molecular e a sua actividade fisiológica são exactamente idênticas às da Melatonina produzido pelo organismo. A nossa Melatonina é um produto de qualidade farmacêutica garantida, de uma pureza superior à 99.5%. Ver Qualidade
Estes produtos de origem animal podem ser contaminados. A síntese da Melatonina é realizada a partir de ingredientes de qualidade farmacêutica por laboratorios. A sua estrutura molecular e a sua actividade fisiológica são exactamente idênticas às da Melatonina produzido pelo organismo. A nossa Melatonina é um produto de qualidade farmacêutica garantida, de uma pureza superior à 99.5%. Ver Qualidade
Melatonina
Geralmente, a produção de melatonina, que acontece na glândula pineal do cérebro, diminui com o envelhecimento, por isso, os distúrbios de sono são mais frequentes em adultos ou idosos.
A melatonina pode ser ingerida na forma de suplemento como Melatonina Optimum, ou remédios, como Melatonina DHEA, que ajudam a facilitar o sono e que podem ser comprados em farmácias, lojas de produtos naturais ou farmácias de manipulação, por exemplo.
Preço da melatonina
O preço da melatonina varia de acordo com o suplemente comprado, e com a concentração de melatonina por capsula, no entanto, o valor médio é de cerca de 50 reais por mês.Efeitos da melatonina
A melatonina é muito utilizada para ajudar o indivíduo a dormir, porém, outros efeitos da melatonina incluem:- Controlo na produção de hormônios sexuais femininos;
- Efeito antioxidante nas células;
- Fortalecimento do sistema imune.
Como tomar melatonina
A melatonina para tratar insônia deve ser receitada por um neurologista ou especialista em distúrbios do sono e, normalmente, pode ser ingerida até 3 mg, 1 hora antes de dormir.Caso o indivíduo tenha dificuldade para acordar no dia seguinte, deve informar o médico para que ele diminua a dose de melatonina. Nos casos mais graves de distúrbios do sono, pode ser utilizada a melatonina de 5 mg, 10 mg ou 20 mg.
A melatonina não faz mal porque é um hormônio natural produzido pelo organismo, no entanto, apenas deve ser ingerida na dose recomendada pelo médico.
Efeitos colaterais da melatonina
Os efeitos colaterais da melatonina incluem dor de cabeça, náuseas e mal estar geral, especialmente quando é ingerida em doses excessivas e sem acompanhamento médico.Sempre que surgirem efeitos colaterais da melatonina, o paciente deve consultar o médico para reavaliar o tratamento.
Dez dicas para uma boa noite de sono
- Não coma muito e evite cafeína, nicotina e álcool pelo menos 4 horas antes de ir para a cama;
- Mantenha um ritmo de sono: vá para a cama na mesma hora todas as noites e tente manter essa rotina nos fins de semana;
- Se não dormir em 30 minutos, levante-se e procure uma atividade relaxante como ouvir música suave ou ler;
- Evite fazer anotações, ler ou assistir a TV na cama;
- Tome um banho morno, tente relaxar e evite pensamentos desagradáveis. Quando o corpo está pronto para dormir, geralmente a temperatura dele cai. Um banho pode estimular a bioquímica do sono;
- Exercite-se mais cedo, sempre antes e nunca depois do jantar, ou pelo menos 3 horas antes de dormir;
- Escureça tudo! Geralmente, as pessoas dormem melhor em ambientes escuros;
- É difícil dormir sentindo fome; coma algo leve antes de deitar-se: uma maçã é uma boa opção;
- Caso você tenha insônia ou dificuldade para dormir, evite dormir durante o dia ou, se estiver muito cansado, procure dormir menos de 1 hora;
- Aprenda a dominar o estresse, faça um planejamento para diminuir o ritmo do dia- a dia, especialmente da segunda parte do dia.
Efeitos Colaterais da Melatonina
- Sonolência excessiva;
- Fadiga;
- Baixa acuidade visual;
- Arritmia cardíaca;
- Falta de concentração;
- Agravamento da depressão, em indivíduos deprimidos;
- Inibe a absorção de cálcio, favorecendo a osteoporose;
- Aumenta a quantidade de estrogênio na mulher;
- Dor de cabeça;
- Diarreia;
A melatonina é um hormônio naturalmente produzido pelo corpo mas que pode ser encontrado na forma de suplemento alimentar para melhorar a qualidade do sono.
Contra-indicações da melatonina
São contra-indicações da melatonina:- Gravidez;
- Aleitamento;
- Crianças com menos de 12 anos de idade.
Como tomar melatonina
Recomenda-se tomar melatonina à noite, no mesmo horário que costuma dormir, na dose de de 1 e 2 mg por dia, mas, sempre sob orientação médica. A dose menor de 800 microgramas parece não ter efeito e as doses superiores a 5 mg devem ser utilizadas com cautela.
Falta de melatonina causa obesidade e diabetes, aponta pesquisa
23 de janeiro de 2015
Por Karina ToledoAgência FAPESP – Estudos conduzidos no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) mostram que a melatonina pode ser uma importante aliada no combate a distúrbios metabólicos, entre eles diabetes, hipertensão e obesidade.
O grupo de pesquisa coordenado pelo médico José Cipolla Neto acaba de concluir o terceiro Projeto Temático FAPESP sobre o papel da melatonina no metabolismo energético.
Os resultados indicam que, muito além de regular o sono, a melatonina controla a ingestão alimentar, o gasto de energia – bem como seu acúmulo no tecido adiposo –, a síntese e a ação da insulina nas células.
Além disso, o hormônio é um importante agente anti-hipertensivo, regula a resposta do organismo à atividade física aeróbica e participa da formação de neurônios durante o desenvolvimento fetal e pós-natal.
Parte dos resultados do último Temático foi publicada em 2014 no Journal of Neuroendocrinology e no Journal of Pineal Research, meses de maio e agosto.
Em entrevista concedida à Agência FAPESP, Cipolla Neto comentou os principais experimentos realizados, os fatores que podem prejudicar a síntese de melatonina e como a suplementação pode ajudar no tratamento de doenças.
Agência FAPESP – Que conclusões o senhor destaca nos estudos de seu grupo sobre o papel da melatonina na regulação do metabolismo energético?
José Cipolla Neto – Nossos dados fundamentaram na literatura científica a importância da melatonina no controle da ingestão alimentar, do dispêndio energético pelo organismo e do armazenamento de energia nos estoques, como o tecido adiposo e o fígado. O resultado final desse balanço energético é o peso corpóreo. Podemos afirmar que a melatonina tem papel fundamental na regulação do peso corpóreo. Essa é a grande conclusão desses anos de trabalho financiados pela FAPESP.
Agência FAPESP – De que maneira essa regulação ocorre?
Cipolla Neto – De várias maneiras. Acima de tudo, a melatonina é um poderoso regulador da secreção e da ação da insulina. Como hormônio pró-insulínico e antidiabetogênico, desempenha muitas funções no organismo. Uma das mais importantes é regular o desvio da energia ingerida para os estoques energéticos, bem como a retirada de energia desses estoques para uso nas atividades do dia a dia. Pode ser vista, portanto, como um possível coadjuvante no tratamento do diabetes do tipo 2, decorrente da resistência insulínica. Mesmo no diabetes do tipo 1, no qual há pouca produção de insulina, a melatonina poderia melhorar a ação desse hormônio pancreático. Também é um poderoso agente anti-hipertensivo. Outro aspecto fundamental, já bem conhecido na literatura, é que a melatonina é um importante cronobiótico, ou seja, regulador da ritmicidade do organismo. Há um período do dia em que acordamos, gastamos energia interagindo com o ambiente e adquirimos energia pela alimentação. Em outro período, não interagimos com o ambiente, ficamos em repouso e consumimos a energia dos estoques. Esse balanço diário do metabolismo energético é essencialmente regulado pela melatonina. Quando, em experimentos, a melatonina é retirada do animal, observamos redução na ação da insulina e desregulação no ciclo circadiano. Isso também ocorre com qualquer pessoa que, por algum motivo, passa a ter uma produção menor de melatonina. Isso leva a um distúrbio metabólico cujas consequências são obesidade, resistência insulínica e hipertensão.
Agência FAPESP – Que tipo de experimentos foram feitos para chegar a essas conclusões?
Cipolla Neto – O experimento básico era realizar a pinealectomia (retirada cirúrgica da glândula pineal, responsável pela produção de melatonina) em ratos e observar os efeitos da falta do hormônio nos tecidos metabolicamente importantes, como adiposo, muscular, fígado, sistema nervoso central e pâncreas. Dois ou três meses depois, sem nenhuma outra mudança na rotina ou na dieta, o animal já apresentava resistência insulínica, hipertensão e princípio de obesidade. Com a reposição de melatonina, o quadro era completamente revertido. Nos grupos em que a reposição começou no mesmo dia em que a glândula foi retirada, os animais nem sequer desenvolveram distúrbios metabólicos. Em paralelo, fizemos estudos com animais idosos, condição em que sabidamente há produção menor de melatonina. A reposição eliminava as alterações metabólicas tipicamente encontradas no idoso. Também demonstramos que a melatonina é essencial para que o organismo responda aos exercícios aeróbicos. Nos animais em que a glândula pineal havia sido retirada, as adaptações metabólicas benéficas que o exercício promove desaparecem. Em outro trabalho mostramos, de forma definitiva, que em ratos com diabetes tipo 1 experimental, assim como em pacientes com diabetes do tipo 1 que produzem pouca ou nenhuma insulina, há produção menor de melatonina. Esses indivíduos sofrem, portanto, todas as consequências metabólicas relacionadas com a deficiência desse hormônio. Mostramos ainda que o agente causador da queda da produção, nesse caso, é a hiperglicemia, que altera o funcionamento de algumas enzimas na glândula pineal que são responsáveis pela síntese de melatonina. Diabéticos do tipo 1 são, portanto, fortes candidatos à reposição.
Agência FAPESP – Além da hiperglicemia, o que mais pode prejudicar a produção de melatonina?
Cipolla Neto – A principal causa de queda na produção noturna de melatonina é a fotoestimulação. A maioria das pessoas começa a produzir esse hormônio por volta de 20 horas. Quando o indivíduo se expõe à luz durante a noite, seja vendo TV ou mexendo no smartphone ou no computador, a síntese de melatonina que deveria estar ocorrendo nesse período é bloqueada. Esse pode ser um dos fatores por trás da epidemia de obesidade da sociedade contemporânea. Também há fatores relacionados com intervenções médicas. Várias drogas usadas na clínica alteram a produção de melatonina, como os betabloqueadores, os bloqueadores de canal de cálcio e os inibidores da enzima conversora de angiotensina (as três drogas são usadas contra hipertensão). Indiscutivelmente, os mais poderosos são a poluição luminosa noturna e o trabalho no turno da noite.
Agência FAPESP – O horário em que tem início a síntese de melatonina varia entre pessoas com ritmos matutinos e vespertinos?
Cipolla Neto – Em cerca de 75% da população o início se dá por volta de 20h. Nos indivíduos vespertinos, a produção de melatonina começa mais tarde. Nos matutinos, mais cedo. Existe uma variação de acordo com o cronotipo que também define o horário em que os níveis de melatonina no sangue ficam baixos o suficiente para o indivíduo acordar.
Agência FAPESP – Mas hoje muitas pessoas são acordadas pelo despertador.
Cipolla Neto – Esse é um fator que também pode ser prejudicial. Os indivíduos vespertinos, por terem um perfil de produção de melatonina estendido pela manhã, ficam mais privados desse hormônio quando precisam acordar muito cedo e expor-se à luz do dia.
Agência FAPESP – Como tornar a rotina menos danosa para quem não tem a possibilidade de dormir cedo ou acordar tarde?
Cipolla Neto – Uma das coisas que têm sido sugeridas é eliminar o comprimento de onda da luz azul, de 480 nanômetros, que controla a ritmicidade circadiana e a produção de melatonina. As empresas de iluminação já estão trabalhando nesse tema. Estudos mostraram que, se o ambiente noturno estiver com baixas intensidade de luz azul, o indivíduo pode permanecer trabalhando sem ter a ritmicidade circadiana e a produção de melatonina afetadas significativamente. Mas esse é justamente o comprimento de onda emitido pelo LED de luz azul presente em computadores, televisores e smartphones. Há empresas que vendem películas para colocar na tela e filtrar a luz azul. É uma forma de lidar com o problema.
Agência FAPESP – No caso das crianças, qual seria a recomendação?
Cipolla Neto – O perfil da produção de melatonina e a ritmicidade circadiana de crianças é completamente diferente dos adultos, mas os efeitos da iluminação noturna são os mesmos e ainda mais graves. Crianças com menos melatonina e com distúrbios de sono são fortes candidatos a distúrbios metabólicos na vida adulta. Já tem sido observado em adolescentes o crescimento brutal da resistência insulínica. Até a puberdade, o ritmo circadiano está sendo estruturado e qualquer fator que prejudique a síntese de melatonina vai afetar uma série de funções no organismo, inclusive o desenvolvimento puberal.
Agência FAPESP – Em quais casos seria indicada a suplementação de melatonina?
Cipolla Neto – Já há respaldo internacional de várias sociedades médicas para o tratamento de alguns tipos de insônia e também do jet lag (descompensação do ritmo circadiano causada por viagens). Também há evidências poderosas de que ela pode ser um agente terapêutico importante contra o câncer, hipertensão e um regulador do metabolismo energético. Mas para essas três condições ainda está sendo estudada a forma mais adequada de tratamento.
Agência FAPESP – O senhor acha que em breve os médicos, ao tratarem obesidade, hipertensão e diabetes, vão prescrever também a melatonina ?
Cipolla Neto – Não tenho a menor dúvida. O tratamento com betabloqueador, por exemplo, retira do paciente um componente fisiológico importante para o combate à hipertensão. Nada mais justo que nesses indivíduos se faça reposição terapêutica de melatonina. É algo que os cardiologistas estão discutindo atualmente.
Agência FAPESP – O consumo contínuo de suplemento pode causar diminuição da produção endógena?
Cipolla Neto – Não. A melatonina exógena que o indivíduo toma é um poderoso sincronizador dos ritmos circadianos e, portanto, ajuda a regularizar a produção endógena. Mas é crucial observar que, em qualquer circunstância, o consumo de melatonina deve ocorrer somente à noite, cerca de uma hora ou 30 minutos antes de dormir.
Agência FAPESP – Se tomado corretamente o suplemento não teria efeitos colaterais?
Cipolla Neto – Segundo a literatura, a melatonina é um agente sem qualquer efeito tóxico. O único possível problema é a alteração da ritmicidade circadiana caso o indivíduo tome no horário ou na dose inadequada. Em crianças, os cuidados precisam ser maiores. Dependendo do uso, da quantidade, pode provocar um retardo pubertário. Mas a substância é prescrita para tratar várias doenças infantis com distúrbio de sono associado, como síndrome das pernas inquietas, síndrome de Smith-Magenis e até autismo. Ao consolidar o sono, a melatonina faz com que a vigília seja mais eficiente e atua como um agente neuroprotetor.
Agência FAPESP – A dose é calculada de acordo com o peso?
Cipolla Neto – Não. A melatonina é um hormônio caprichoso. Cada indivíduo tem uma produção diferente. O ideal seria fazer uma avaliação prévia dos níveis produzidos, mas nem sempre isso é possível. O que se aconselha é fazer uma espécie de trial clínico. Administrar na menor dose possível e acompanhar a evolução do quadro, aumentando, se necessário. Deve-se parar quando chegar no ponto em que o indivíduo se sente bem e os sinais e sintomas tiverem sido eliminados.
Agência FAPESP – Se a melatonina não oferece riscos, por que foi proibida no Brasil?
Cipolla Neto – A Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] proibiu há cerca de 20 anos porque estava sendo feito uso inadequado. Na época, havia propagandas na televisão com pessoas famosas dizendo “já tomei minha melatonina hoje”. Isso só traz danos. Melatonina é um hormônio e tem de haver normas de administração muito bem controladas. A literatura mundial hoje conta com evidências suficientes para liberar a venda no Brasil, mas para uso sob prescrição médica.
Agência FAPESP – O senhor pretende continuar estudando a ação da melatonina?
Cipolla Neto – Submetemos um novo projeto para avaliação no qual pretendemos estudar as consequências de tudo que descobrimos até o momento. Do ponto de vista experimental, vamos investigar como a melatonina regula o dispêndio energético promovido pelo tecido adiposo marrom – algo que ficou muito evidente nos trabalhos anteriores. Observamos que o animal que não produz melatonina gasta menos energia. Também demonstramos que a melatonina durante a gestação regula a programação metabólica do feto. Filhotes de mães privadas de melatonina durante a gestação desenvolvem um quadro metabólico com resistência insulínica e deficiência na secreção de insulina. Queremos descobrir como exatamente a melatonina interfere nessa programação. Existe uma quantidade enorme de trabalhos mostrando que a melatonina é importante na neurogênese do sistema nervoso central. Pretendemos avaliar como estão os circuitos hipotalâmicos que regulam fome, saciedade, dispêndio energético e em que fase do desenvolvimento fetal e pós-natal a melatonina é mais importante para a neurogênese. A segunda grande parte do projeto abrange os estudos clínicos. Pretendemos iniciar um grande estudo multicêntrico – envolvendo pesquisadores da USP, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Hospital Albert Einstein – sobre o papel da melatonina na regulação do metabolismo energético humano. Em uma terceira parte do trabalho, pretendemos estudar a repercussão social de se mexer com a produção de melatonina. Para isso, vamos estudar o perfil metabólico de filhos de mulheres que trabalharam à noite durante a gestação. Nesse novo Projeto Temático proposto temos como supervisor externo o professor Russel J. Reiter, da Universidade do Texas (Estados Unidos), que acabou de ser incluído na Thomson Reuters list of The World’s Most Influential Scientific Minds.
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